Situada no litoral sul do Espírito Santo, Anchieta é um dos balneários mais charmosos do Estado. O município, repleto de belezas naturais, sediou a terceira parada do Cultura em Toda Parte 2024, rota Circulação em Espaços Culturais, que aconteceu da última segunda-feira (23) até esse domingo (29), no CEU das Artes, em Anchieta. A programação incluiu uma série de atividades culturais e de formação, promovendo o fomento e a difusão da produção artística capixaba.
A programação cultural teve início na sexta-feira (27), às 19 horas, com o show Canções de Despedida, em que o cantor Vitu apresentou as músicas autorais do EP Despedida, além de seu material inédito. “É muito legal ter essa dinâmica de misturar esses formatos de arte, de escapar só da música, e ter outras manifestações juntas. Acho que enriquece muito o diálogo artístico”, disse.
Na sequência, o público conferiu a performance A Lagarta de Uma Mulher Adulta, com a artista Natalie Mirêdia. A encenação propõe um debate sobre a normatividade imposta no mundo contemporâneo. “A arte da performance, por vezes, vai para um lugar da arte contemporânea que é um lugar que a gente precisa cavar significados. E ela traz esse nome porque tem a ver com o casulo, com a metamorfose e tudo que a gente encontra quando sai desse invólucro”, comentou a artista.
Fechando a programação de sexta-feira (27), a banda de surf music Intóxicos. “Foi muito importante levar o show para um lugar que a gente nunca tinha ido e ter as portas abertas para um som instrumental, como o nosso que não tem tanta difusão. Então foi muito proveitoso para a banda”, afirmou o guitarrista Marcus Tourinho, que também destacou a qualidade técnica do projeto. “O show foi ótimo, com qualidade de som muito boa. A participação do Intóxicos no Cultura em Toda Parte foi muito importante. Fomos muito bem tratados e recebidos”, contou.
No sábado (28), a programação teve início com o espetáculo de dança Terra sem Males, da Ehioze Cia de Dança. “A base do espetáculo vem da pesquisa do mito indígena Guarani Terra sem Males, a partir do qual os bailarinos construíram toda a coreografia, em parceria com o coreógrafo, que direcionava toda a plasticidade”, afirmou Jordan Fernandes, diretor da companhia.
Logo após, a plateia conferiu o trabalho do Slam Xamego. “Acredito que o nosso objetivo com o slam é o mesmo objetivo da Secult quando pensou o Cultura em Toda Parte: pegar manifestações culturais distintas e levar para várias cidades do Estado. Isso é muito interessante. Trazer o slam para outros territórios era um objetivo nosso de uns anos, mas com a parceria com a Secult e o IBCA fica bem mais fácil”, ressaltou Marquin Oliveira, integrante do coletivo, ao lado de João Martins e Filipe Rocha.
Fechou a programação do sábado (28), o trabalho autoral da cantora Monique Rocha, que levou para o balneário o show Sambas, Pontos e Congos. “Primeiro, quero dizer que esse projeto é maravilhoso, acho que democratiza a cultura, levando arte para municípios que não têm tanto acesso. E poder se apresentar em outras cidades é um encantamento. E para gente que é artista é bacana porque a gente sai do eixo da Grande Vitória para ir para outros espaços. E se não fosse o Cultura em Toda Parte a gente não poderia ter oportunidade de estar”, disse.
No domingo (29), a programação foi para toda família. A escritora Nanda Picoli abriu as atividades com a contação de histórias e aprovou a iniciativa: “Gostei bastante. Essa é uma grande oportunidade para a gente que não é tão conhecido. Eu trabalho com teatro há muito tempo e agora poder voltar como autora e poder contar a história do meu livro infantil é fantástico.”
Na sequência, a também escritora Ione Duarte contou a história autoral O Sumiço do Galo Vermelho. “Acho um evento mega importante porque a cultura não pode ficar centralizada em um único lugar. E quando ela visita cidades mais distantes é muito importante para todos, especialmente para as crianças porque um momento desse enriquece muito a vida de uma pessoa e vai ficar marcado na memória. E a gente vive de memórias”, afirmou a autora.
Encerrando a programação em Anchieta, o espetáculo A História de Chico da Lua, com Desconhecido Davi. Para o artista, iniciativas como o Cultura em Toda Parte precisam continuar existindo. “Para mim, é uma honra não só de saber que existe uma itinerância em que lugares mais afastados estão recebendo apresentações de artes integradas e diversas, mas que isso está sendo feito com qualidade e respeito tanto ao público quanto aos profissionais. É um mix de alegria com euforia e de vontade que um projeto como esse se perpetue e aconteça mais vezes”, frisou.
FORMAÇÕES
Além das atividades culturais, os moradores de Anchieta participaram de uma série de atividades de formação. Na sexta-feira (27), o público conferiu a palestra O Moderno Pandeiro Brasileiro, com o músico Eduardo Szajnbrum. A formação apresentou a história e a evolução da técnica utilizada em um dos instrumentos de percussão mais representativos da música brasileira, o pandeiro.
No sábado (28), às 14 horas, o ator e diretor Wander Cesar Coelho ministrou a oficina O Ator Extracotidiano. “A oficina trabalhou o lado emocional do ator diante das adversidades que acontecem durante o espetáculo. Depois eu vou trabalhando coordenação motora, fotografia viva, tempo, ritmo, projeção de voz”, pontuou.
Depois, às 16 horas, também no sábado (28), aconteceu a palestra “Cultura Indígena no Sul do Espírito Santo”, com Sandra Loyola Santana. “Nessa palestra, a gente focou na Cultura de Anchieta, onde o evento está sendo realizado e que é a minha cidade Natal. Estou muito feliz de estar aqui falando sobre esse assunto tão importante e urgente que é tratar dos nossos povos originários”, salientou Sandra Loyola Santana.
De 23 a 28 de setembro, a cidade de Anchieta recebeu o curso de formação Introdução ao Teatro, com Marcelo Ferreira. “Aqui em Anchieta eu priorizei trabalhar com a linguagem corporal, por acreditar que o gesto e a expressão transmitem muito e vão além da própria palavra. Elas conseguem passar sentimentos e situações que, às vezes, um texto poderia transformar em algo mais erudito ou complicado. É sempre uma surpresa, como foi aqui em Anchieta, encontrar meninos e meninas tão talentosos e que poderiam continuar desenvolvendo sobre teatro. Foi uma experiência muito rica”, destacou Marcelo Ferreira.
O curso aconteceu com os alunos do Colégio Gomes de Oliveira. João Vitor foi um deles. “Achei incrível. Com o curso, muitos alunos puderam aprender mais. Na nossa escola, tem muitos talentos e isso abre novos caminhos”, elogiou. Caio, que também é aluno da instituição, disse ainda que que oportunidades extraclasse são importantes para descobrir outros talentos: “É um processo de descobrimento. Às vezes, a pessoa nem sabe que gosta de teatro e acaba gostando bastante. Pode parecer pouco só uma oficina, mas deixa na cabeça da pessoa ‘gostei disso’.”
Adileusa Silva, professora que acompanhou os alunos durante a formação, acredita que atividades que fogem do currículo formal ajudam no desenvolvimento pessoal dos estudantes. “Foi uma parceria muito importante, que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo dos alunos. Acredito que esse tipo de projeto deveria acontecer com mais frequência. Ter um controle organizado estrutural para que todas as escolas dos municípios, e até do próprio Brasil, tivessem a oportunidade de receber as oficinas, porque elas fazem parte do desenvolvimento da criança”, completou Adileusa Silva.
O Cultura em Toda Parte é uma realização da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com os Institutos Brasil de Cultura e Arte (IBCA) e Raízes, via chamamento público, e conta com recursos da Lei Paulo Gustavo (LPG), do Ministério da Cultura (Minc), Governo Federal.