Palestra Produção de presença na memória da cultura popular do norte do Espírito Santo
Uma imagem talhada em uma madeira escura e uma série de saberes ali materializados. Foi sobre isso, entre muitos outros significados, que tratou a palestra Produção de presença na memória da cultura popular do norte do Espírito Santo: Bino, Benedito das Piabas ou São Beneditinho, com a escritora, pesquisadora e curadora Bernadette Lyra.
O bate-papo aconteceu em formato online, na noite do dia 31 de maio, dentro das atividades de formação que integram a programação do projeto Cultura em Toda Parte – Módulo Norte.
A escritora falou sobre a “produção de presença” na ancestralidade partindo da imagem em madeira talhada de Bino também chamado de Benedito das Piabas ou São Beneditinho, figura forte na cultura popular do norte do Espírito Santo e objeto de estudo da pesquisadora. “Bino já foi motivo de muitos estudos. Inclusive um já feito por mim, com orientação do professor Muniz Sodré, na UFRJ, por ocasião da minha dissertação de mestrado”.
Bernadette, que nasceu e cresceu em Conceição da Barra, ao longo dos seus 82 anos de vida acompanhou as manifestações populares da região desde a infância. “Desde criança, eu sempre tive um encantamento enorme pelo Ticumbi. Mas sempre me intrigou a participação de Bino naquele ritual do Ticumbi, que só existe no norte do Espírito Santo e é antiquíssimo”.
Como grande escritora que é, Bernadette deu uma breve introdução do que seria o Ticumbi, a partir de suas memórias poéticas. “Vamos ver algumas pistas que eu tenho dessa produção de presença, dessa força ancestral, do sagrado de Bino, durante a encenação do Ticumbi. Eu acredito que é preciso falar da luta entre os reis de congo e de bamba para chegar entre a encruzilhada dos dois santos: Benedito das Piabas e Benedito da Igreja se cruzam”.
A pesquisadora continuou a descrição: “Segundo os mestres, os moradores antigos, e tudo mais que eu escutei desde menina em Conceição da Barra, o ritual de Ticumbi, desde os tempos de cativeiro, acontece assim: dois reis, o Rei de Congo e o Rei de Bamba, um que se presume ser cristão e batizado (o rei de congo) e o outro não (o rei de bamba). Os dois porfiam e brigam para fazer a festa de Sao Benedito, a festa do santo. Uma versão que eu me lembro muito bem de ter escutado enquanto criança, porque o folguedo do Ticumbi, a festa do Ticumbi, a brincadeira do Ticumbi, o ritual do Ticumbi, pode ser dar o nome que quiser para essa coisa maravilhosa”.
Entre as várias histórias que Bernadette trouxe, ela finalizou sua com um agradecimento a sua região. “Eu espero que com essa fala minha a gente possa contribuir para um resgate, ou pelo menos, um caminho de resgate de toda essa força, de toda essa presença dessa ancestralidade afrobrasileira que existe na cultura do Espírito Santo. Eu sou muito abençoada por ter nascido em Conceição da Barra e ter vivenciado tudo isso desde pequenininha e hoje poder trazer e repartir com vocês”.
Com realização do Instituto Brasil de Cultura e Arte, apoio do Sesi Cultura e da TV Educativa do Espírito Santo, o Cultura em Toda Parte – Módulo Norte conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Chamamento Público para Seleção de Organização da Sociedade Civil (OSC) para realizar Gestão e Operacionalização do Projeto “Cultura em Toda Parte” – Circulação e Difusão de Atividades Artísticas e Culturais no Estado do Espírito Santo, por intermédio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult ES), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
