Uma reflexão sobre a negritude através da construção de bonecas. Essa é a proposta da oficina Autoconhecimento do Poder Negro Através das Bonecas, com artesã e costureira Jupiara Francisco. A atividade aconteceu entre os dias 31 de maio e 02 de junho dentro das atividades de formação do projeto Cultura em Toda Parte – Módulo Parte. Cada aluna recebeu um kit de corte e costura para a participação na oficina.
Jupiara começou a oficina com um fala de empoderamento sobre ser negro. “Nós somos um país de maioria negra e precisamos entender a importância disso. Porque, na maioria das vezes, nós aprendemos a desvalorizar isso. Mas nós somos fortes e estamos vivos. E nesse estar vivo nós vamos aprendendo. Porque você aprende a ser negro. Você aprende que o negro tem o poder. Você aprende que a gente não veio pra cá escravizado. E já que estamos aqui, no Brasil, vamos transformar esse país em um quilombo, porque somos um povo forte, guerreiro, que trabalha, que estuda e que vai além”.
Na sequência, as alunas assistiram um vídeo sobre a tradicional boneca Abayomi. A Abayomi é uma boneca negra. Seu nome tem origem yorubá e quer dizer encontro precioso. Segundo a lenda, durante as terríveis e longas viagens nos navios negreiros, as mães rasgavam suas saias e faziam bonecas para acalentar seus filhos. As bonecas eram feitas sem costura apenas com nós e amarrações e não possuíam olhos, bocas e narizes para representar a diversidade étnica do povo africano.
No Brasil as bonecas surgiram na década de 1980, e foram uma criação da artesã maranhense Lena Martins, militante do movimento das mulheres negras. Lena se inspirou na mãe, que era costureira, e começou a utilizar os retalhos para fazer bonecas. O nome Abayomi foi em homenagem ao nome do filho de uma amiga. Lena achou o nome tão lindo que batizou a boneca. Em dezembro de 1988 foi criada a cooperativa Abayomi, dando continuidade à luta do trabalho das mulheres negras e contra a violência.
A partir desta apresentação histórica as aulas foram voltadas para a construção das bonecas. “Cada uma de nós somos de um jeito. Então é bem interessante essa questão de fazer bonecas. Você vai ter a mesma modelagem, os mesmos tecidos, e as bonecas vão sair totalmente diferentes uma das outras”, pontuou Jupiara enquanto as alunas construíam os corpos das suas bonecas.
No segundo dia, Jupiara apresentou um novo modelo de boneca. A partir de um molde que tinha as partes separadas da boneca (braços, pernas, cabeça e tronco) as alunas confeccionaram uma boneca com enchimento, além de linha e agulha. A terceira e última aula teve o foco nas roupas e no cabelo das bonecas.
Com realização do Instituto Brasil de Cultura e Arte, o Cultura em Toda Parte – Módulo Norte conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Chamamento Público para Seleção de Organização da Sociedade Civil (OSC) para realizar Gestão e Operacionalização do Projeto “Cultura em Toda Parte” – Circulação e Difusão de Atividades Artísticas e Culturais no Estado do Espírito Santo, por intermédio da Secretaria da Cultura (Secult), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.