Uma ação de empoderamento através da tradição das tranças. Essa foi a proposta da oficina de Tranças para Iniciantes, com a trancista Quitéria. A atividade de formação aconteceu entre os dias 03 e 05 de junho, em formato online, como parte da programação do Cultura em Toda Parte – Módulo Norte.
A oficina é uma ação de combate ao racismo que busca valorizar a estética e a beleza negra, além de romper padrões e aproximar povos e culturas, a partir da técnica e história das tranças afro, promovendo a igualdade racial utilizando a cultura e a arte como ferramentas para trabalhar questões socioeducativas com foco na ressignificação e fortalecimento da identidade étnico racial e a promoção e valorização da cultura negra.
#Dia1
Quitéria começou a atividade explicando para as inscritas sobre a experiência que estava para começar. “O Despertar da Trancista é um projeto com o intuito fazer trança. É a experiência de idealizar e praticar. E a prática leva a perfeição. E a medida que você vai praticando vai aperfeiçoando as técnicas. E a partir do momento que você se dispõe a aprender conhecimentos teóricos sobre toda essa temática, você vai praticando isso dentro de você e vai trilhando esse caminho para se tornar uma trancista”.
A instrutora falou sobre a definição da profissional. “Trancista é aquela pessoa que vai enxergar a possibilidade de uma profissão. É alguém que não vai querer fazer a trança só pelo dinheiro momentâneo e sim entender de gestão financeira, de marketing digital. Ela tem que entender o mínimo para atrair clientes. Isso é ser trancista: ter uma mentalidade empreendedora”.
Na sequência, Quitéria falou sobre o material usado para trançar os cabelos, como o jumbo, a linha princesa e o kanekalon. Da importância das pomadas para uma trança com maior qualidade. E sobre os tipos de cabelo, que estão divididos entre os tipos de 1 a 4. “Os tipos de cabelo são divididos pela curvatura. O tipo um é o cabelo liso. O tipo dois é o ondulado. O tipo três é o cacheado e o tipo quatro é o crespo”. Fechando a aula, as alunas aprenderam a fazer a trança de três junto as linhas”.
#Dia2
O segundo dia de aula foi dividido em dois momentos: um voltado para o marketing e outro para a parte prática da execução de tranças. Na primeira parte, Quitéria deu dicas de como criar um portfólio, ter um cartão de visitas, como capitalizar e fidelizar clientes, além da criação de uma página comercial nas redes sociais.
“A rede social funciona como um cartão de visitas e/ ou portfólio. Por que as pessoas vão entrar na sua rede social e na bio ela vai ver que você é trancista, que está começando, os cursos que fez e que serviços pode oferecer, além das informações que ela precisa para te contatar. Descendo mais um pouquinho ela encontra o seu portfólio. É onde ‘mora’ o seu trabalho. É lá que você vai convencer a cliente do trabalho que você pode desenvolver”.
Na segunda parte, ela falou sobre a importância de uma repartição bem feita e as técnicas de uma box braids, que são tranças afros finas realizadas desde a raiz que seguem por toda a extensão do cabelo. Ela une fios de fibra sintética ao cabelo natural.
Antes de começar o trançado, Quitéria começou explicando a importância da repartição do cabelo para dar unidade as tranças e a importância de uma pomada para auxiliar o trabalho. “A pomada modeladora é importante porque ajuda a separar o cabelo, em duas partes, de forma perfeita. A pomada ajuda a isolar uma mecha da outra”.
No terceiro e último dia de aula, Quitéria falou sobre a origem das tranças, a chegada das tranças no Brasil, o movimento negro. “A nossa estética é uma estética política. Não é só uma estética pela estética. Não é só fazer trança pela trança. A gente tem uma missão enquanto trancistas. Uma missão herdada pelas nossas ancestrais, as trancistas que vieram antes da gente”.
Quitéria falou sobre a importância política das tranças. “As tranças não são somente um símbolo de estética, uma forma de deixar o cabelo bonito, de proteger os fios capilares ou o fio cabeludo. Elas não são somente isso. Elas representam muito mais que isso. Elas representam um código estético e de comunicação de uma cultura. Para os africanos, as tranças podem sinalizar status, posição na sociedade”.
Ela também falou um pouco sobre turbantes e ensinou algumas amarrações para as participantes, inclusive utilizando uma saia. Na sequência ela retomou as aulas práticas de tranças encerrando o ciclo de formação.
“Em nome da comunidade do Coxi, gostaríamos de agradecer todo o ensinamento que você nos propôs. Levaremos esse momento para nossas vidas. Você não sabe a importância que tem pra gente saber de onde nós viemos, quais as nossas lutas, a nossa etnia. Foi muito bom” disse Domingas Florentino, em nome das alunas da Comunidade Quilombola do Coxi.
Com realização do Instituto Brasil de Cultura e Arte, apoio do Sesi Cultura e da TV Educativa do Espírito Santo, o Cultura em Toda Parte – Módulo Norte conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Chamamento Público para Seleção de Organização da Sociedade Civil (OSC) para realizar Gestão e Operacionalização do Projeto “Cultura em Toda Parte” – Circulação e Difusão de Atividades Artísticas e Culturais no Estado do Espírito Santo, por intermédio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult ES), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.