A trend (ou tendências, em português, termo que nomeia conteúdos que ficam populares nas redes sociais) “Início de um sonho/ Deu tudo certo”, é uma boa metáfora para definir a etapa pela qual passam os 120 proponentes contemplados pelo Edital JuventudES. Os projetos começam a ser executados a partir deste mês e seguem até o mês de julho, em dez municípios do Espírito Santo atendidos pelo Programa Estado Presente em Defesa da Vida.
Durante o mês de abril e início de maio, os proponentes selecionados assinaram o Termo de Compromisso, documento que formaliza a parceria destinada à liberação de recurso para que os jovens coloquem a mão na massa e executem suas ideias. Nestes encontros, os jovens também receberam as primeiras orientações da equipe do JuventudES, voltadas para a execução de seus projetos.
“Estes encontros foram uma oportunidade de estabelecer o primeiro contato com os proponentes dos projetos selecionados. Agora, estamos ansiosos pela execução das propostas, que vão dar visibilidade ao trabalho destes jovens e amplificar todos os seus talentos e criatividade”, explicou a coordenadora do Projeto JuventudES, Thais Souto Amorim.
“O Projeto JuventudES apenas confirma o talento dos jovens do Espírito Santo. Os 120 projetos aprovados no edital confirmam o olhar atento das juventudes capixaba, que, em cada uma das ações, estimula a democratização dos saberes que impactam diretamente no futuro de uma sociedade melhor. Para nós, do Instituto Brasil de Cultura e Arte, é uma honra estar em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos (SEDH) e viabilizar uma política pública tão potente e transformadora”, afirmou Larissa Delbone, produtora-executiva da OSC que gerencia o JuventudES.
Os muitos olhares das juventudes
O talento e a criatividade das juventudes capixabas estão espalhados em todos os projetos selecionados pelo Edital JuventudES. As propostas abordam questões que atravessam o cotidiano dos proponentes e de vários jovens que estão no entorno dessa galera, em áreas com foco na economia criativa, no empreendedorismo, literatura, raça, gênero, sexualidade, entre outros temas.
Um desses trabalhos é o “Ressignificando o Cistema: Escrevivência de Pessoas Transfemininas Negras”, idealizado por Treva, em parceria com a Gabi e a Maria, moradores do município da Serra. O projeto, com foco em mulheres trans, travestis e pessoas não binárias negras, faz parte da literatura para refletir sexualidade, questões de gênero e inclusão. “Por meio dessa ação, a gente quer trazer questões de identidade de gênero, interseccionadas pela raça, e questionar mesmo esse sistema cis normativo que a gente vive e que impõe as normativas de vida para certos corpos, principalmente de pessoas transfemininas negras”, explicou Treva.
A proposta é que a partir de rodas de conversas e formações, as participantes usem a escrita para jogar luz sobre suas vivências. “Esse é um projeto muito importante, pois traz para o protagonismo uma população que é subjugada socialmente e que tem vários dos seus acessos negados. Então, por meio das ‘escrevivências’, termo cunhado pela escritora Conceição Evaristo, a gente quer que essas meninas mostrem as potencialidades que suas vivências têm, pela arte escrita, seja poemas, poesias, textos, música, seja o que for. E que, ao final, serão lançadas em um livreto”, disse Treva.
Outro projeto que traz a figura da mulher negra para o centro da discussão é o Festival Cultural Tereza de Benguela, que acontecerá em Cachoeiro de Itapemirim. Durante três dias, o evento reunirá inúmeras ações, como oficinas de grafite e pintura, apresentações culturais e ações sociais voltadas para o empoderamento do universo feminino. “Nosso projeto é voltado para que mulheres negras se empoderem. Existe o racismo com as mulheres, com o cabelo das mulheres. Temos no projeto várias atividades, como fazer tranças, ativar seus cachos, se sentir melhor consigo mesma. Nosso projeto é voltado para que elas possam se sentir melhor nesse mundo de preconceito”, pontuou Letícia Queiroz, uma das idealizadoras do festival.
A comunidade LGBTQIA+ também está representada em vários projetos selecionados no Edital JuventudES. Um deles é a VII Parada do Orgulho LGBTQIA+ Guarapari, idealizado pelo coletivo DRC (Diversidade Resistência e Cultura), representado na assinatura do termo de compromisso por Leonardo Brandão, Agatha Hills e Vênus Pereira Enkanta. “Conseguir fazer o projeto pelo edital do JuventudES, que foi incrível. Foi tudo pra gente. O evento vai acontecer e vai ser lindo. A gente chegou a chorar de emoção. São seis anos tentando colocar o projeto na pista. Mas dessa vez, por meio do Projeto JuventudES, a gente conseguiu e vai acontecer”, comemorou Leonardo Brandão. “Para nós, como pessoas LGBTQIA+, é muito lindo ver um projeto sendo apoiado pelo JuventudES”, disse Agatha Hills.
Com foco na diversidade, os projetos aprovados pelo Edital JuventudES passeiam por diversas áreas. Essa é a proposta do projeto Economia Criativa nas Comunidades Tradicionais, Cooperativa das Juventudes, do Coletivo Juventude de Axé, de Cachoeiro de Itapemirim, que realiza ações em defesa da equidade religiosa e no combate ao genocídio da juventude negra. O trabalho tem foco na economia criativa.
“A gente já tinha uma ideia em mente, no começo, sobre essa demanda que é a cooperativa da juventude. Que é a produção da farinha de acaçá (que é obtida pelo grão de milho branco, e usada em pães, papas, broas, bolos e sobremesas. Também usada para o acaçá, um prato ritual do candomblé, além de um prato típico da culinária baiana). São insumos que a gente precisa na nossa redondeza, mas que infelizmente acaba sendo difícil ter acesso a esses produtos. Quando a gente vai tentar comprar, ou é caro demais ou tem que trazer de fora. Então, nosso objetivo é produzir aqui dentro e expandir para fora. Uma coisa que a gente espera é trazer para os jovens uma visão de empreender e conseguir tirar uma renda deste produto”, disse Iago Ferreira Soares, do Coletivo Juventude Axé.
Além de executar os projetos, é importante que os jovens consigam dar visibilidade às suas ações. Pensando nisso, os jovens de Colatina idealizaram o Projeto “Decola”, que tem foco na área da comunicação e propõe a formação básica com foco no audiovisual para as redes sociais, roteiro e marketing. “Nosso projeto objetiva a formação de jovens na área da comunicação. Nosso coletivo conta com três pessoas, cada uma em suas áreas específicas, e a gente vai passar um pouco sobre cada área para que os jovens possam se comunicar melhor, divulgar seus projetos e pensando em um plano de continuidade para que os projetos aconteçam e tenham uma continuidade”, explicou Bruno Camilo da Silva, um dos idealizadores.
Para ele, o JuventudES é uma oportunidade de os jovens darem o primeiro passo e realizarem seus sonhos. “A gente vê que muitos jovens que têm ideias e às vezes não sabe como executá-las e também não têm acesso ao financiamento, seja qual for. Isso traz oportunidade para os jovens tirar as ideias do papel e colocá-las, de fato, para serem executadas”, comentou Silva.
Projeto JuventudES
Promover a mobilização e o fomento de ações idealizadas por jovens que moram nas periferias do Espírito Santo. Essa é a proposta do Projeto JuventudES, uma ação desenvolvida pelo Governo do Estado do Espírito Santo, por meio da Secretaria de Direitos Humanos (SEDH) e do Programa Estado Presente em Defesa da Vida. O projeto é gerido pelo Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).
A secretária de Estado de Direitos Humanos, Nara Borgo, ressaltou que o JuventudES vai beneficiar diretamente cerca de 7,2 mil jovens no Espírito Santo. “O JuventudES é importante, porque vai atingir não só os jovens e as jovens do nosso Estado, mas também, indiretamente, muitas famílias, o que torna o alcance muito maior”, salientou.
Voltado para o público de 15 a 24 anos, o Projeto JuventudES destina especial atenção aos jovens que enfrentam questões decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e egressos e/ou em cumprimento de medidas socioeducativas, além de questões relacionadas às diversidades sexual, racial, étnica, de deficiências e em situação de rua, mapeando esses jovens, garantindo o acompanhamento e a efetiva fruição das ações propostas em rede.
O projeto é desenvolvido nos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Guarapari, Cachoeiro de Itapemirim, Aracruz, Colatina, Linhares e São Mateus, e resulta na participação de, aproximadamente, 7.200 jovens. As ações vão fomentar e acompanhar o desenvolvimento de 120 projetos protagonizados por jovens e/ou coletivos juvenis selecionados nos territórios do projeto Estado Presente: Segurança Cidadã e, dessa forma, contribuir para a redução dos índices de violência nos territórios prioritários do projeto.
Estado Presente
O Programa Estado Presente em Defesa da Vida é uma iniciativa do Governo do Estado do Espírito Santo, que conta com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para a implementação de ações de prevenção e combate à violência. O objetivo é contribuir para a redução dos elevados índices de crimes violentos (homicídios e roubos) entre jovens de 15 a 24 anos, nas regiões de maior vulnerabilidade social e, historicamente, mais atingidas pela violência.
Contemplado no Eixo Social do Programa Estado Presente, o Projeto JuventudES integra o conjunto de políticas públicas do Governo do Estado para os jovens capixabas.