Falar da história negra por meio da gastronomia. Assim foi a oficina Cultura Alimentar Afro, com a educadora social e ativista cultural, Winy Fabiano, que aconteceu entre os dias 25 e 27 de maio, em formato online e gratuito dentro das atividades de formação do projeto Cultura em Toda Parte – Módulo Norte.
A proposta da formação é fortalecer a Cultura Afro e sua diversidade ao longo dos anos no Brasil proporcionando uma metodologia teórica para a vivência dos nossos antepassados. “Essa primeira aula é pra gente entender do que se trata a África e quais são essas referências na nossa gastronomia” explicou Winy.
#Dia1
A primeira aula foi teórica e começou com Winy entendendo qual a percepção dos alunos sobre a África. “Eu considero África como fortalecimento, como beleza, como história, como resistência, como transformação, como luta, como conquista” definiu Domingas Florentino, moradora da comunidade quilombola Coxi, em Conceição da Barra, que participa em grupo da oficina.
Winy deu início explicando o que é Sankofa, um ideograma que simboliza a volta para adquirir conhecimento do passado, a sabedoria e a busca da herança cultural dos antepassados para construir um futuro melhor. Na sequência ela abordou a diversidade que define tanto a culinária quanto o continente africano chegando a uma linha do tempo tendo como base a culinária em que falou, por exemplo, sobre a elaboração da cerveja que surgiu 5000 AC, no Egito.
Também pontuou as diferenças da culinária entre as regiões e apresentou o Caril, um guisado de vegetais, refeição típica na África. Falou ainda sobre a Culinária de Resistência, que usa alimentos como meio de diminuir a morte causada por desnutrição. Também ressaltou a influência africana na culinária brasileira e sobre o apagamento das influências ao longo da história e sobre o racismo estrutural e como reflete na gastronomia e na gastronomia periférica.
#Dia2
O segundo dia da oficina foi voltado para prática. Os inscritos conferiram o passo a passo da construção de dois pratos salgados, o Quibebe e o Calulu de Frango. “A gastronomia africana é uma gastronomia de adaptações. Tem a base dos pratos, mas eles podem ter variações que podem ser agregadas aos pratos” explicou Winy.
O Quibebe é o purê de abóbora. “Muitos afirmam que esse prato foi trazido da África. O Quibebe que se faz hoje é muito provavelmente fruto da integração culinária afro-indígena. Uma mistura das gastronomia dos índios e dos africanos, que aqui foram escravizados”.
O Calulu tem uma origem nos países de Angola e São Tomé e Príncipe. O prato consiste em um refogado de folhas, que tem como base o espinafre, o quiabo e a berinjela. E pode ser feito com variações como peixe seco, carne seca ou o frango, que foi a escolha da aula. “O Calulu é um prato familiar habitual, um prato do dia a dia que também é servido em festas religiosas na África”.
#Dia3
No terceiro e último dia, Winy apresentou dois pratos doces para fechar a oficina de Cultura Alimentar Afro. Ela preparou um Pudim de Pão e um Qumbe (um docinho de coco africano). “A base dessas receitas veio de Portugal só que o manuseio, a forma como eles eram formatados, veio da África. Tem a mão negra por trás disso “.
Winy também fortaleceu o conceito de transformação e adaptação, uma das características da gastronomia da África. “A culinária africana é uma culinária de adaptações. Eu poderia trazer um pudim ‘normal’, que vocês fazem no dia a dia. Só que como a gente trabalha com variações eu resolvi trazer o pudim de pão, um ingrediente que comum no café da manhã de muitas pessoas que pode ser utilizado na integração de outro prato”.
Depois foi a vez do Qumbe, que na África é considerada a comida sagrada do orixá Oxum. “A receita do Qumbe sofreu algumas adaptações ao longo dos tempos e aqui no foi adicionado o coco, pelos negros no território da Bahia”. Fechando a oficina ela apresentou o documentário “Saborosas Memórias Quilombolas”, de Ricardo Sá, que apresenta uma série de receitas de comidas da comunidade quilombola de Retiro do Mangaraí, no ES.
Com realização do Instituto Brasil de Cultura e Arte, apoio do Sesi Cultura e da TV Educativa do Espírito Santo, o Cultura em Toda Parte – Módulo Norte conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Chamamento Público para Seleção de Organização da Sociedade Civil (OSC) para realizar Gestão e Operacionalização do Projeto “Cultura em Toda Parte” – Circulação e Difusão de Atividades Artísticas e Culturais no Estado do Espírito Santo, por intermédio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult ES), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.