Reescrever é legal? Essa e algumas outras perguntas foram respondidas na palestra Escrever é chato. Reescrever é que é bom, coordenado pelo escritor e roteirista, José Roberto Torero. A atividade de formação, que aconteceu no dia 7 de junho, faz parte da programação do projeto Cultura em Toda Parte – Módulo Norte. “Eu já estou escrevendo há 30 anos e, até hoje, eu não aprendi essa técnica de escrever de primeira. E acertar e tal”, falou o palestrante no começo do bate-papo.
Torero começou falando, de maneira bem humorada, da importância de reescrever um texto e de como ele ganha forma a partir da construção. “O reescrever é o mais importante no escrever. Existe um certo mito romântico de que você escreve de primeira. Que é uma questão de inspiração, que a coisa vem pronta. É como se eu tivesse sido possuído por um espírito e escrevi. Pode até ser verdade, mas geralmente é um espírito de porco e o texto é horrível. Porque não tem essa de possessão. É um trabalho intelectual, lento, técnico, onde você tem que fazer e refazer muitas vezes o texto” explicou ele.
Ele também falou sobre o processo de escrita de alguns trabalhos, como os livros O Chalaça e Os Vermes, além de ressaltar a importância da escaleta no processo de escrita. “Eu faço uma escaleta bem feita. Com detalhes, com diálogos. No último livro que escrevi, ele tinha uma escaleta bonita, gorda. Eu faço mesmo. Nunca resolve 100%, porque sempre acontecem coisas no meio do caminho, mas ajuda muito”.
Torero também apresentou aos participantes as muitas versões de um de seus textos. Entre as mudanças está a troca de palavras, a supressão de repetições e gerúndios, além de extinguir imagens contidas na narrativa como um céu cinzento em um momento de felicidade da personagem. Tudo foi percebido através de uma leitura em voz alta e sendo reescrito.
Na segunda metade da palestra, Torero propôs uma dinâmica para a reconstrução de um texto a partir das ideias apresentadas. A dinâmica foi feita em grupo. Finalizando a palestra, ele destacou a importância do escritor olhar para o texto como leitor para identificar se a intenção inicial foi atingida. “Eu penso muito nisso: se eu falei o que eu queria ter falado. Se eu causei o que eu gostaria de ter causado. Tentar ver como leitor e não como escritor. Você sabe o que pretendeu, mas isso não quer dizer nada. Às vezes você não faz o que pretendeu. Por isso é importante a tal da ‘gaveta’. Passam três dias, você relê e pensa: ‘pô, como pode melhorar isso aqui’. O teste da gaveta é muito eficiente”.
Com realização do Instituto Brasil de Cultura e Arte, apoio do Sesi Cultura e da TV Educativa do Espírito Santo, o Cultura em Toda Parte – Módulo Norte conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Chamamento Público para Seleção de Organização da Sociedade Civil (OSC) para realizar Gestão e Operacionalização do Projeto “Cultura em Toda Parte” – Circulação e Difusão de Atividades Artísticas e Culturais no Estado do Espírito Santo, por intermédio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult ES), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.